segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Médica, de Mais e de Menos

Estes dias tenho sido mais médica, a avaliar pelas 15h de trabalho ontem e 13h hoje (e mais o que me espera nos próximos dias)...
Este papel o que tem de mais difícil são as doses de paciência que têm de se tomar ao pequeno almoço. Paciência para estar sempre com um sorriso quando se chama alguém que vem cheio de medo e expectativas e que preparou muito bem o discurso, a listinha e até a toilette e que quer aproveitar ao máximo os minutos que parecem sempre poucos comparados com os que parecem sempre muitos em que esteve à espera. E paciência para ouvir cada pessoa como se fosse a única, a primeira e a última, para que sinta que a compreendemos profundamente e que fazemos tudo o que podemos por ela. Porque ser médico, acima de tudo o que se possa ou não saber, é fazer tudo o que se pode por alguém e, para mim, isso distingue os Bons Médicos dos Maus Médicos. O difícil, para mim, é gerir isso no tempo que temos para cada um dos nossos doentes e, mais ainda, no tempo que temos para nós e para a nossa vida.
Vinha hoje no caminho a pensar nisto mesmo: dar prioridade à minha saúde mental ou à dos meus doentes? (e conclui que acho mais útil a minha estar saudável, para poder cuidar da deles)
E chegou a hora de voltar à papelada, que me consome mais paciência que os mais derretedores de paciência "acho-que-é-melhor-ir-embora-que-está-muita-gente-lá-fora-mas-já-agora-podia-medir-me-a-tensão-outra-vez?" ou "pela-milésima-vez-venho-queixar-me-deste-formigueiro-que-me-vai-por-aqui-depois-aqui-e-me-precorre-o-corpo-todo-não-há-nenhum-exame-melhor-para-isto?".
As malditas análises para passar para o computador esperam-me (anda uma mãe a criar um filho para isto!).

Oh papelada, o que uma médica sofre...

(que quando chegar a casa não me posso esquecer de investigar a história de um músico que anda sem forças na mão e ver o que posso fazer por ele)

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